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12 setembro 2012

1º. Congresso Internacional do Livro Digital

1º. Congresso Internacional do Livro Digital



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De 29 a 31 de março de 2010 aconteceu em São Paulo o primeiro Congresso Internacional do Livro Digital, organizado pela CBL e com apoio da Imprensa Oficial.
Nesse congresso, vieram especialistas internacionais e nacionais e o foco foi a área do comércio. Foram mostradas várias estatísticas e previsões, uma delas: a de que as vendas do livro digital e o do livro em papel, em 2015, iriam se equiparar.
Uma realidade é a de que o livro digital já é lido atualmente. O número de leitores ainda é pequeno, mas tende a crescer. Os aparelhos de leitura são muitos, e não são limitados aos e-readers (como Kindle e iPad), podem ser o aparelho celular (mania do Japão), micro, TV digital.
Quais, então, são as vantagens e desvantagens desse novo livro? Basicamente são comerciais. Vantagens: não usa papel, então “não agride” o meio ambiente (não vamos esquecer que os aparelhos leitores são gadgets e também serão lixo um dia); o livro será mais barato. Desvantagens: o leitor do livro digital acredita que o livro deva ser muito barato ou enviado a ele de graça; pesquisas revelam que os leitores do livro digital acreditam que o conteúdo que está na internet pode ser aproveitado de graça, então eles nem ao menos consideram que enviar o livro digital ao amigo por e-mail seja pirataria.
Muito se falou sobre editoras e livrarias e distribuidoras e software e hardware… Mas, e para o escritor? Quais são as vantagens?
Acreditamos que haja, sim, vantagens ao escritor iniciante. A rede propicia que o escritor faça sua divulgação de forma eficiente e que ele consiga ainda, por ele mesmo, vender seu livro.



DIVULGAÇÃO

O escritor é seu maior divulgador. Mesmo se seu livro for editado por uma grande casa editorial, ele não será alvo da publicidade da empresa. Quem divulga o livro – SEMPRE – é o escritor.
Bem, as redes sociais virtuais são o novo ponto de encontro. Em ordem de acesso, elas são: o Orkut, Facebook , Youtube, Blog (Brasil é o quarto país em acesso a blog) e twitter (São Paulo é o terceiro maior acesso a twitter no mundo). Sem esquecer das redes de encontro de leitores, como O livreiro, Skoop, Good reads e o Clube de Leitores de Ficção Científica, para citar só alguns.
O leitor do livro digital quer ver mais do que o texto, ele quer ver uma entrevista com o escritor em vídeo do youtube, ele quer ver o trailer do livro (booktrailer), ele quer acesso a histórias que circundam o universo da história publicada em forma de livro, ele quer mais detalhes e curiosidades.
O escritor, por exemplo, pode propiciar tudo isso ao administrar sua própria rede de contatos e colocar em seu blog especialmente criado para o livro todas as informações que ele achar que seus leitores gostariam de ver.



LIVRO DIGITAL
Hoje a segurança de se publicar um livro digital é zero. Desculpem-nos a sinceridade. Mas é zero mesmo. Salvar o livro em PDF e enviar chave de acesso é inocente. Salvar o livro em EPub é quase eficiente, apenas se o leitor não souber que há na internet, de graça, programas que transformar o EPub em Word, PDF, TXT etc.
Mas, e aí? Da mesma forma que a pirataria se faz ao se enviar um arquivo por e-mail, ela também é feita ao se xerocar todo um livro. A pirataria é uma realidade e o escritor e/ou a editora tem de considerar essa “falha” no comércio do livro.
Uma facilidade que a tecnologia propicia é para o próprio escritor, que pode tentar vender por ele mesmo seu livro. O escritor pode salvar o livro dele em um dos formatos citados e negociar a venda do arquivo diretamente com livrarias virtuais, como a Gato Sabido, Cultura, Saraiva, para citar algumas nacionais; e com as internacionais Apple Store, Barnes&Noble, Amazon. Se for o escritor quem negociar isso, ele terá mais lucro certamente. Ele não pagará gráfica, nem papel, nem o frete (esquece que é o escritor quem pagava o frete na edição caseira de impressão de um livro?). Ao vender o próprio livro, o escritor ganha mais do que 10% (que é o que geralmente as editoras pagam). A única desvantagem é que ele não conta com o “selo de qualidade” que a publicação em uma editora tradicional geralmente traz.




E OS APARELHOS?
Como dissemos, o livro digital pode ser lido em diferentes aparelhos: celular, TV digital e leitor de ebook. Os aparelhos de mais destaque são o Kindle, o iPad e o iPhone. Aconselhamos que busquem informação no blog de Ednei Procópio (http://ebookpress.wordpress.com/), ele coloca informações sobre o hardware, o software e sobre conteúdo (que aliás é como o pessoal está chamado o texto que o escritor escreve).
As pesquisas mostraram que para a leitura é mais usado: PC ou laptop (47%), iPhone (11%), iTouch (10%), Blackberry (9%).
Para mais informações, há também o http://www.idpf.org/ (International Digital Publishing Forum).



ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Então, o que podemos concluir de tudo isso?
Sim, é um pouco assustador. Estamos em uma fase de transição, talvez como foi a do códice ao livro papel (como brinca o vídeo do “Helpdesk medieval” http://www.youtube.com/watch?v=4ZwJZNAU-hE). Agora nada é seguro, nenhum hardware é compatível, é uma tristeza para quem vende o livro (com a pirataria a um clique), e para quem compra o aparelho leitor (que pode se tornar obsoleto da noite para o dia).
Quem ganha com isso? Bem, apesar do perigo e da precariedade, é um negócio. Ganha quem vende e recebe o pagamento. Pode ser um, podem ser cem, podem ser mil.
O que aconselhamos? Continuem a publicar. Se a decisão for por uma editora comercial, insista na publicação tanto em papel quanto digital. Caso o escritor resolva apostar na autopublicação, atenção: não tenha pressa e trabalhe bem o texto (não deixe de enviá-lo a uma leitura crítica ou para a leitura-beta de amigos). Admitimos que nunca foi tão fácil ao próprio escritor se publicar. Ele tem as redes sociais como divulgação, ele tem o conhecimento para fechar seu livro em PDF ou EPub. Então, é simples, ele faz seu primeiro livro, o avalia com profissionais de leitura crítica, e o vende em seu blog, e o divulga em sua rede social.
Conhecemos um caso bem-sucedido: Eduardo Sophr, que vendeu sozinho seu livro A Batalha do Apocalipse, usando como estratégia a impressão tradicional, envio pelo correio, venda em blog, divulgação na internet. Agora ele abriu a editora dele.
A internet também permite que o livro seja transmídia, ou seja, seja lançado ao mesmo tempo em que se cria toda uma estrutura de vídeos, entrevistas, livro digital, livro em papel, blog do livro etc., como é o exemplo do livro Último Trem, de Marco Simas, publicado em uma editora tradicional.

Se você ainda tem dúvidas (e com razão), pode também vender seu livro On Demand, ou seja, só imprime o livro caso alguém o comprar. Não precisa mais ter mil livros armazenados na sua garagem. Basta acessar gráficas grandes como a Bandeirantes e a Prol para verificar que os preços são em conta e que a gráfica ainda dá uma força ao pagar seu frete.
Sabendo quanto custa cada serviço, o escritor tem mais elementos para negociar a publicação de seu livro em editoras sob demanda (aquelas que pedem para o autor pagar uma parte da produção ou levar uma parte de seu próprio livro em consignação).
Então: para o escritor, o melhor negócio é a autopublicação ou a publicação por editora? Depende. Depende de quanto tempo ele tem para investir em correr atrás de sua divulgação, de livrarias, de pedir acertos mensais nas livrarias, de controlar seu estoque. Caso perceber que não tem tanto tempo assim, escolha uma editora em que confie.



O CONTEÚDO
O escritor ainda é quem escreve. Parece óbvio. Mas é bom frisar. O escritor é ainda a parte mais importante de todo o processo. E, admiravelmente, é a menos comentada. Vocês, escritores, não subestimem sua importância, nunca superestimem editora alguma. Vocês são a parte criativa. Vocês são quem produz o chamado “conteúdo”. Devem buscar aperfeiçoar sempre seu texto, não ter pressa, conhecer o mercado, conhecer seus futuros leitores — nem que decida que quer a arte pela arte, que não escreve para público-alvo, tenha essa decisão bem pensada e pesada.
Como o livro digital está aí, você deve também buscar uma editora que o ofereça (ou você mesmo o oferecer), mas com qualidade: tanto na produção quanto na divulgação. A editora, por menor que seja, tem de ter uma estrutura mínima para a divulgação de seu livro. E você, tenha sempre em mente, irá, sim, investir um pouco de seu tempo nas redes sociais. E, por que não, também buscar leitores em sua cidade, nas bibliotecas, nas escolas, em saraus. E, vale a pena lembrar, investir em leitores é sempre um bom negócio para o bolso e para o espírito.


Prêmio Literário | o escritor, o leitor, o mercado | Parte I

admin em 10 de Março de 2010 @ 14:06
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Recentemente conversamos com alguns escritores e críticos sobre a questão do Prêmio Literário. Lembramos de vários prêmios internacionais de grande repercussão e seriedade, como o The Man Booker Prize, o Goncourt, o Hugo Awards e outros.

Vimos que no Brasil há alguns bons prêmios, como o Portugal Telecom, o Prêmio São Paulo, Prêmio Machado de Assis (da ABL) e outros. E a questão que formulamos é por que no Brasil não há grandes prêmios literários, com incentivo a escritores inéditos, escritores já publicados, leitores?


O nosso propósito inicial é lançar essa questão a todos nossos leitores e aguardar suas cogitações, seus pensamentos, suas críticas. Pensar sobre isso pode não mudar o cenário, mas já será um início.


Balanço sobre o Concurso


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O concurso de contos que promovemos no ano de 2009 foi muito proveitoso. Conhecemos muitos de vocês, mantivemos um diálogo rico, tivemos o privilégio de ler seu texto. Agradecemos a confiança depositada em nosso trabalho e agora iremos compartilhar algumas das mais importantes questões que pudemos traçar durante essa experiência.


    I. Sobre Concursos Literários: Gente, concurso literário tem de ser
  • gratuito, não pode ter “taxa” de inscrição.
  • não propor que o autor pague seu livro como parte do prêmio, isso é sinônimo de arapuca.
  • divulgar short e long lists, desconfie se a long list tiver mais do que 10 indicações.
  • divulgar nome dos juízes.
  • ter critérios publicados em edital/site.
  • ser aliado a programa de fomento de leitores (como encontros em feiras, workshops, divulgação de entrevistas, bate-papo do escritor com leitores) ou propor participação de leitores em resultado.


    II. Regras no edital: O Prêmio SESC deste ano divulgou que 20% dos inscritos foram desclassificados por não atenderem às normas do edital. É muito importante saber ler regras e aplicá-las. Um escritor não pode ser desclassificado simplesmente por não saber colocar o texto em entrelinha 1,5, ou saber qual é a tipologia em que o texto deve ser formatado. Em nosso concurso não desclassificamos ninguém por formatação textual. Nós lemos todos os textos. Mas, gente, sério, leiam e sigam o edital. Um escritor há que ser proficiente em compreensão textual.


    III. Norma culta: O escritor há que conhecer as regras gramaticais para transgredi-las. Tenha uma boa gramática em casa para consulta. Sugerimos o Dicionário de questões vernáculas para dúvidas mais pontuais.


    IV. Gênero literário: O concurso era de contos e recebemos algumas crônicas e poemas. Para se aprofundar na questão dos gêneros literários, indicamos o A criação literária, de Moisés Massaud.



    V. Geral:
  • Evitar frases feitas, a não ser que elas tenham um propósito claro no texto.

  • Tom: o tom de sua escrita deve se guiar pela história: formal x informal. Não misturar termos formais e informais sem consciência disso.

  • Humor, drama, conflito são elementos importantes, explorá-los.

  • Encadeamento: se o leitor brecar a leitura, acabou. Testar isso com sua própria leitura em voz alta.

  • A todo custo: não seja previsível em um conto!

  • Sonoridade: Evitar eco e rimas despropositais: “a criação da armação era pura danação”. Sério, agradecemos por não ganhar a vida por nossos exemplos brilhantes.

  • Ideias são boas quando inéditas: ler muito para poder identificar o que já foi dito, o que já foi imaginado e proposto.

  • Evitar comparações, adjetivações batidas, como “formosos lábios”. Adjetivos e advérbios em excesso podem ser um ponto fraco no texto.


  • Evitar muitas explicações. Em vez de explicar, sugira. Use a sutileza.

  • Não abrevie a narrativa a fim de conquistara surpresa do leitor. Desenvolva o texto.

  • Se quiser períodos extensos, tenha certeza de não se perder neles.

  • Há finais enigmáticos e finais incompreensíveis. Cuidado.

  • Separar por asteriscos partes do texto: *** . Não é ideal para um conto, uma vez que já é uma narrativa muito curta. Ela pode interromper o fluxo de leitura e irritar o leitor.

  • O desenvolvimento é importante, mas um conto se sustenta só pela exploração da forma? Achamos que não. Muito bem escrito, mas sem gancho, sem ideia sedutora, evite.

  • Mesmo os textos recusados têm belas frases. Não deixar de desenvolver o texto por apostar em frases de efeito.

  • Não se esforce apenas para ter uma frase de efeito ou uma ideia brilhante, esforce-se para desenvolvê-la.

  • Não narre fatos. Um conto não é uma lista de fatos ou ações. Um conto deve ser o desenvolvimento de uma premissa. Desenvolvimento lento e desfecho rápido, levar o leitor até o clímax. O escritor não conta uma história apenas, ele manipula as emoções do leitor. Ele conduz o leitor pela mão para depois deixá-lo só.


  • O escritor não escreve para explicar algo, ele escreve para que nunca haja certeza, para que se instaure a dúvida e para suscitar no leitor, com muito trabalho e competência, a desconfiança.




Em uma oficina que frequentamos, o escritor Marcelino Freire resumiu a condição do escritor. Parafraseando-o: o escritor não é aquele que tem ideias. Todos nós temos ideias. O escritor é aquele que tem as palavras.


Ousamos continuar. O escritor não é também quem publica livros. Quem faz isso é o editor, uma empresa, um comércio. O escritor é quem escreve. Antes de se preocupar com lançamento, festa, reconhecimento, preocupe-se com a arte.


A profissão do escritor no Brasil é algo novo. Nosso país é uma Nação jovem. Sem percorrer meandros marxistas, esperamos que mais e mais profissões no ramo das Artes sejam reconhecidas e valorizadas. Enquanto isso não acontece, desejamos aos escritores muita força e determinação para seguir o caminho literário e torcer para que no país surjam programas sérios para a formação de leitores proficientes, que são o motor e o destino de nossos livros.


Continuem a escrever e se apliquem a escrever. Além disso, passem a exigir programas sérios de fomento da leitura, encontros de escritores e leitores (não apenas o mercado de peixe das feiras de livro), debates e prêmios literários sérios e amplamente reconhecidos.


Iremos manter uma página com dados de concursos, em http://blog.oficioeditorial.com.br/concursos-eventos-e-oportunidades/ . Se souberem de concursos legais, enviem-nos o link. Participem de concursos, discutam os concursos.

Entenda por que é mais difícil fazer ficção científica nos dias de hoje



Roberto de Sousa Causo e a Ficção Científica

admin em 17 de Outubro de 2009 @ 16:15
Escritor – geração 90

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Roberto de Sousa Causo


Biografia |
Causo foi atendente de biblioteca, ilustrador editorial e publicitário (free-lancer), antes de publicar profissionalmente o seu primeiro trabalho, o conto “A Última Chance”, na revista semiprofissional francesa Antarès — Science fiction et fantastique sans frontières. Desde então tem publicado profissionalmente pelo menos uma história por ano, frequentemente mais. Causo também exerceu e exerce atividades editoriais relacionadas à ficção científica e fantasia no Brasil (fonte: Wikipédia).

Blog | http://rscauso.tripod.com/

E-mail | rscauso@yahoo.com.br

Colunista | http://terramagazine.terra.com.br/colunistas/robertocauso.


Livros |

  • A Dança das Sombras. Editorial Caminho, 1999.
  • Terra Verde. Grupo Editorial Cone-Sul, 2001.
  • Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil: 1875 a 1950. Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, 2003.
  • A Sombra dos Homens. Editora Devir, 2004.
  • Organização de Histórias de Ficção Científica, Editora Ática, 2005
  • A Corrida do Rinoceronte. Editora Devir, 2006
  • Organização de Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica, Editora Devir, 2008.
  • O Par: Uma Novela Amazônica. Humanitas, 2008.
  • Organização de Rumo à fantasia, Editora Devir, 2009.

Além de escritor, você também é pesquisador e crítico da Ficção Científica no Brasil. Na USP, você cursa mestrado também nessa área? Qual é sua pesquisa no meio acadêmico?

Roberto |
Estou no programa de pós-graduação em estudos de literatura e língua inglesa, com um projeto sobre ficção científica brasileira, de enfoque comparativo com a FC anglo-americana, especificamente os movimentos New Wave (da década de 1960) e Cyberpunk (da década de 1980), que representam a inserção e o estabelecimento do pós-modernismo na FC. Além dessa pesquisa de mestrado, tenho publicado artigos em revistas e antologias acadêmicas no Brasil e no exterior. Me interesso por todos os campos de pesquisa dentro do assunto ficção científica e fantasia no Brasil. Ultimamente tenho pesquisado conceitos como pulp fiction e também a história do fandom brasileiro de FC. Fandom é palavra que designa a comunidade de fãs e autores de ficção científica.

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Temos muitos estudos acadêmicos sobre os diversos gêneros dentro do romance. Você acha que a área acadêmica no Brasil carece de estudos sobre a literatura de Ficção Científica e fantasia? Faz falta um estudo de memória da literatura de FC Fantasia no Brasil?

Roberto |
É preciso reconhecer que estudos acadêmicos sobre FC existem no Brasil desde a década de 1970, provavelmente desde o infame livro de Muniz Sodré, A Ficção do Tempo (1973). Antes desse livro, a intelectualidade brasileira já havia abordado o gênero, nos cadernos e revistas de cultura. Mas nos últimos cinco ou seis anos, graças à entrada de um número substancial de jovens interessados em FC, nos programas de pós-graduação de universidades de norte a sul do Brasil, o gênero tem se tornado bem mais presente nos estudos acadêmicos. Eu acredito, porém, que esse potencial mal foi arranhado.


A questão da FC brasileira como assunto desses estudos é mais delicada, porque o corpus é menor e são raros os autores brasileiros que possuem uma produção numerosa e realmente interessante, que justifique uma pesquisa mais aprofundada.




A ficção especulativa seria um rótulo que englobaria a ficção científica, a fantasia e o horror. Por sua vez, dentro de cada um desses gêneros há mais subgêneros. Há alguma pesquisa que discorra sobre todos esses desdobramentos? Essa classificação em vários subgêneros é um diferencial desse campo de literatura?

Roberto |
Certamente. Toda essa “taxonomia” da ficção especulativa (um termo que, no mundo de língua inglesa, abarca a FC, a fantasia e horror) foi formalizada nas páginas de The Encyclopedia of Science Fiction (1993), editada por John Clute & Peter Nicholls, e de The Encyclopedia of Fantasy (1996), de John Clute & John Grant. Como a terminologia e vários conceitos acerca da FC e da fantasia nasceram nas páginas das revistas especializadas e dos fanzines, esses dois livros formalizaram e discorreram sobre tudo isso, e se tornaram a fonte de uma linguagem internacional que norteia as discussões, as abordagens e até mesmo as pesquisas acadêmicas. É um caso único, que uma conceitualização espontânea de um gênero popular tenha esse impacto na crítica acadêmica, formal.



FC e fantasia são gêneros ricos, multifacetados, mas ao mesmo tempo muito reconhecíveis por certos elementos e conjuntos temáticos. Eles formam subgêneros, de modo que um romance de viagem no tempo de hoje, por exemplo, terá que dialogar com uma longa linhagem de outras obras que vêm do século XIX até o presente. Não se trata de uma intertextualidade estanque, mas essas classificações fornecem eixos inevitáveis de diálogo e de interpretação. E o mesmo com outros subgêneros ou tendências. Daí a necessidade de se falar em subgêneros — FC hard e soft; histórias de viagem no tempo ou de exploração espacial; cyberpunk, steampunk; futuro próximo ou futuro distante; histórias de mutantes, super-homens ou de alienígenas náufragos na Terra… Ou, na fantasia, de alta fantasia, fantasia heróica, histórica, contemporânea, urbana, etc., etc. Fala-se inclusive que o leque de subgêneros e de abordagens é tão vasto, que eles não seriam um gênero propriamente, mas todo um campo alternativo de literatura, quando comparados ao mainstream literário. (Recentemente, a acadêmica Farah Mendlesohn ressuscitou essa hipótese, na introdução de The Cambridge Companion to Science Fiction, de 2003.)


Essa problemática se torna ainda complexa quando nos lembramos que a maior parte da FC brasileira é composta de obras escritas por autores do nosso mainstream que, por uma razão ou outra, voltaram-se para a FC em um momento de suas carreiras. Neles, essa intertextualidade específica é atenuada pela presença de valores literários próprios da alta literatura ou ficção literária. Ao mesmo tempo, a atenção dos fãs está concentrada num olhar lateral — voltado para os parâmetros da FC anglo-americana. Isso gera um certo descompasso, um embaraço raramente reconhecido, e argumentos e discussões frequentemente redundantes ou desinformados sobre o que é ou deveria ser a FC.




Ainda sobre a pergunta anterior: essa segmentação do gênero pode ser prejudicial para o leitor e o escritor? Por exemplo, para o leitor, ele se limita a ler somente um gênero dentro da FC? E para o escritor, também não seria uma limitação à criação?

Roberto |
Há puristas em todos os gêneros, eu suponho. Vide a polêmica recente entre autores contemporâneos da “Geração 90” e Milton Hatoum e Bernardo Carvalho, discutindo a predominância do tema urbano e violento na literatura brasileira. Ou aqueles que dizem que o chamado movimento da “literatura marginal” (escrita por favelados, presidiários e suburbanos) tem apenas interesse sociológico e não literário. No campo da FC, os puristas mais chatos são aqueles fãs da FC hard que vivem dizendo que isto e aquilo “não é FC” porque violam as regras da plausibilidade científica. Outros são aqueles que perseguem os modismos como o cyberpunk, a new space opera ou o New Weird… Na fantasia, autores e leitores perfeitamente satisfeitos com duendes, elfos e anões em seus livros, mas que rejeitam sacis e caaporas. No horror, aqueles que apenas lêem ficção sobre vampiros… E os escritores mainstream que se aventuram no gênero repetindo velhos esquemas satíricos ou produzindo especulações inconsistentes em torno de assuntos atuais como clonagem, engenharia genética e realidade virtual.



Então me parece que não é o fato de existirem divisões e conceituações, mas sim as atitudes e preferências pessoais que são generalizadas e utilizadas como baliza pelas pessoas. A literatura, para o descontentamento tanto do leitor ou escritor zelota, quanto do teórico literário, é o terreno do imponderável e do surpreendente. E a ficção especulativa cumpre muito bem esse papel de maravilhar, desautomatizar e surpreender — se o leitor, escritor ou crítico tiver a mente aberta.
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Você nos disse uma vez que há muita confusão entre a fantasia e o fantástico. Poderia explicar o que define cada um deles?

Roberto |
No caso dessa confusão, que existe especificamente no seio do fandom, na verdade não se trata de uma questão de estrutura, mas de estatuto literário. Fantasia é um gênero popular, nascido da atmosfera do Romantismo Europeu no século XIX, misturando pesquisa folclórica, mitos, novelas de cavalaria, romance histórico, mito e religião, e que desemboca no século XX nas páginas das revistas especializada como Weird Tales. Os seus protocolos de escrita e de leitura são populares — eles se baseiam em protagonistas fortes que vivem aventuras fabulosas, descritas, paradoxalmente, de maneira realista. O fantástico também surge no século XIX mas tem um estatuto menos popular e mais “literário”. A fantasia como gênero é feita para abrigar o leitor em um mundo mágico ou sobrenatural, onde o leitor vai acompanhar um protagonista que é capaz de lidar com essa magia; no fantástico, o leitor, assim como o protagonista, tende a assumir uma atitude mais passiva — o fantástico existe ali como o absurdo, o grotesco, a loucura ou como alegoria da arbitrariedade da vida, da condição humana na modernidade ou coisa que o valha. São posições quase antagônicas, embora se cruzem com certa frequência.

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As obras de ficção científica parecem estar voltando também às salas de aula. Em meu tempo de estudante, tínhamos a coleção Vaga-lume, indicada como leitura complementar na escola, com histórias como Spharion. A Ática parece estar investindo nessa literatura. Na sua opinião, a escola poderia tomar como leitura obrigatória uma obra de ficção científica? Esse gênero estaria mais próximo do jovem leitor? O conto de FC e fantasia, por sua extensão, não seria um ótimo material para o professor trabalhar em sala de aula?

Roberto |
Como muita gente, eu tendo a rejeitar a ideia de leitura obrigatória. Mas como me lembro com muito afeto da biblioteca da escola em que fiz o ensino fundamental, sou muito a favor da disponibilidade de ficção científica nas bibliotecas escolares — e também nas salas de aula, como fomentador de discussões eletivas, se isso for possível. Montei para a Ática, na coleção Para Gostar de Ler, a antologia Histórias de Ficção Científica, com contos de autores brasileiros e estrangeiros, e ela foi comprada pela Prefeitura de Belo Horizonte para alimentar as suas bibliotecas.


Ainda não sei dizer qual é a posição da FC nas bibliotecas ou escolas. Surpreendentemente, há uns dez anos se assumia que gêneros como o horror eram mais populares nesses ambientes do que a ficção científica. Eu suponho que agora, com assuntos como o cosmonauta brasileiro, o aquecimento global, a destruição do meio ambiente, a exploração do pré-sal, etc., a FC se torne mais atraente para professores e alunos.



Sobre sua produção literária, seu primeiro romance publicado foi A Corrida do Rinoceronte? Como foi a história da publicação desse livro?


Roberto |
Eu terminei o primeiro rascunho em algum momento do começo deste século, enviei-o a algumas editoras, que o rejeitaram. Então o enviei à Devir, que havia publicado o meu livro de contos de fantasia heróica A Sombra dos Homens em 2004. Douglas Quinta Reis, o Diretor Editorial da Devir, gostou do romance e fez com que ele fosse publicado em outubro de 2006. O livro recebeu boas resenhas — a maioria fora da imprensa cultural —, exceto por uma que saiu em uma revista virtual, que foi aquilo que os americanos chamam de killer review: uma resenha que destrói o livro abordado. Essa resenha se centrou na questão racial, que o livro aborda, mas curiosamente não mencionou nada do seu elemento mais saliente, que é o elemento fantástico.
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Sua obra mais recente – Rumo à Fantasia – como foi a sua organização, produção e seleção de escritores convidados? Fale-nos um pouco sobre ela.


Roberto |
Rumo à Fantasia é uma tentativa de produzir uma antologia internacional de fantasia que sustente a hipótese de esse também é um gênero multifacetado. Assim, temos histórias de autores norte-americanos, de um canadense e um português (Eça de Queiroz), com uma maioria de brasileiros, mas histórias com diferentes abordagens. A seleção dos contos obedeceu a critérios práticos: autores estrangeiros com quem eu já tinha contato, para poupar tempo e dor de cabeça à editora, em termos de contatos e negociação de direitos autorais. E contos brasileiros que eu já havia, em sua maioria, selecionado para a revista Quark, quando fui editor de ficção dessa publicação criada por Marcelo Bandini. A revista existiu apenas durante 2001, e muitos contos programados para sair no ano seguinte ficaram pendurados. Então incluí-los na antologia foi um modo de homenagear o trabalho de Baldini e de reforçar aos autores o meu interesse por suas histórias. Alguns contos, como os de Braulio Tavares e Daniel Fresnot foram incluídos porque abrem caminhos para uma fantasia mais brasileira, que reconhece o material que é fonte da fantasia na própria cultura brasileira: os ecos do medievalismo ibérico nas tradições populares nordestinas, por exemplo. Curiosamente, a maioria dos contos se alinha a um eixo temático que valoriza a morte como tema central — a vida após a morte, o medo da morte, a persistência de compromissos, dívidas e valores após a morte. Isso, eu acredito, ajuda o volume a se tornar mais significativo e memorável ao leitor. Ou é o que eu espero.


Haveria muito mais a ser incluído em um projeto como este, mas um livro de cerca de 200 páginas tem os custos de produção e o preço final ideais, ao meu ver. A capa é uma excelente arte do ilustrador Vagner Vargas, um dos melhores artistas de FC e fantasia do Brasil. Ela também já existia como um trabalho do portfólio de apresentação desse artista.




Temos uma grande preocupação com o escritor ainda em formação. Como foi o início de sua história como escritor? Como foi o caminho percorrido até a publicação do primeiro romance? O que recomenda ao escritor estreiante?

Roberto |
Como muitos escritores de ficção científica e fantasia da minha geração, comecei como fã desses gêneros, escrevendo contos curtos e muito tentativos para as páginas de fanzines como Hiperespaço, Boletim Antares e Somnium. Minhas primeiras histórias apareceram nos fanzines em 1985 e 86, minhas primeiras publicações profissionais em 1989 e 1990. Participei de concursos amadores e profissionais e venci alguns deles, como o Prêmio Jerônimo Monteiro (1990), da Isaac Asimov Magazine; o III Festival Universitário de Literatura (2000) e o 11.º Projeto Nascente (2001). O fato é que desde 1989 que publico profissionalmente pelo menos um texto de ficção curta, e até a publicação de A Corrida do Rinoceronte toda a minha produção foi de contos e novelas. Meu currículo é uma colcha de retalhos de contos publicados em revistas masculinas, científicas, de história em quadrinhos, literárias, acadêmicas e até de ficção científica propriamente! Publiquei em revistas e em antologias no Brasil, na Argentina, Canadá, China, Finlândia, França, Grécia, Portugal (onde saiu o meu primeiro livro de contos, A Dança das Sombras, em 1999), República Checa e Rússia. Há nisso um certo abandono próprio do escritor de ficção de gênero, que deseja antes de mais nada publicar, se remunerado por isso, e que adere menos à preocupação do escritor de ficção literária, que é a de criar um currículo literário distinto.



Atualmente, o escritor novato não tem mais os fanzines como opção de um espaço em que seus primeiros trabalhos podem aparecer e ser avaliados pelos fãs. Hoje é a Internet que realiza essa função. Ao invés de passar pela via crucis de procurar mercados para ficção curta em revistas dos mais diversos tipos, ele pode recorrer àquelas editoras, existentes em bom número, que acolhem textos em antologias, em regime de cooperativa, em que cada autor “compra” uma quota da produção ou número de exemplares da antologia. O primeiro conselho aqui é escolher uma editora que trabalha assim mas que seleciona o material; isto é, uma que aceitará o seu trabalho porque você está pagando e porque ele é publicável, e não apenas porque você está pagando. E o segundo conselho — certamente o mais importante — é o de não se contentar com essa prática; quer dizer, tentar fazer a transição, o quanto antes inclusive, de pagar para ser publicado, para ser pago para ser publicado.


A Internet é a grande ferramenta nesse processo, especialmente aqueles fóruns e comunidades que congregam fãs e profissionais. Mas a educação do escritor tanto no mercado quando nas questões literárias pelas quais ele será julgado pela crítica ou pela história literária obrigatoriamente vão além da Internet. Estão nas revistas literárias e nos cadernos de cultura dos grandes jornais, nas livrarias e nos eventos literários. Observe, frequente, estude e investigue. Pense em contratar um agente literário, se achar que está pronto para tentar as grandes editoras, mas estude as condições, os autores que com quem ele já trabalha, e que ônus essa contratação trará a você.
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Quais são seus escritores e obras preferidos?

Roberto |
Na ficção científica, Orson Scott Card, Ursula K. Le Guin, David Brin, Joe Haldeman, Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Ray Bradbury, Richard McKenna, Braulio Tavares, Ivanir Calado, Bruce Sterling e Philip K. Dick. Na fantasia, Robin Hobb, Fritz Leiber, Robert E. Howard e Barbara Hambly. No horror, Stephen King, Stephen Gallagher e Dan Simmons. Fora da ficção especulativa eu acompanho Robert B. Parker na ficção de detetive e gosto dos faroestes de Elmore Leonard. Outros autores favoritos são Anton Myrer (que escreveu alguns romances fabulosos de ficção militar, como The Big War e Uma Vez uma Águia), David Poyer, Pat Conroy e Cormac McCarthy. Sou admirador de Ernest Hemingway, William Faulkner, Carson McCullers, John Steinbeck, Afonso Schmidt e Richard Wright. Acho que tenho alguma predileção por autores do Sul dos Estados Unidos, mas também gosto da ficção militar de Poyer e de Laine Heath.



Uma Vez uma Águia é meu romance favorito, aquele que eu gostaria de ler todo ano, embora tenha 1.100 páginas. Na ficção científica algumas das obras que mais me impressionaram são aquela FC antropológica, de base científica mas com um olhar humano, como Orador dos Mortos, de Orson Scott Card; A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula K. Le Guin; e Solaris, de Stanislaw Lem. Gosto de space opera pois cresci lendo a série alemã Perry Rhodan, mas tenho encontrado dificuldade para encontrar uma space opera atual que combine ficção militar e que eu realmente aprecie — talvez por isso tenha resolvido escrever a minha própria série de space opera militar, “As Lições do Matador”, cuja primeira história, “Descida no Maelström”, apareceu este ano na antologia Futuro Presente, de Nelson de Oliveira.



Na fantasia eu gosto muito da trilogia Farseer, de Robin Hobb, e das histórias da Fahfrd e Grey Mouser de Fritz Leiber. No horror, tudo ou quase, que Stephen King escreveu.
testeira livros03 - testeira livros03


Agradecemos Roberto Causo pela entrevista e desejamos muito sucesso em sua pesquisa acadêmica e em sua vida literária!


O narrador no romance brasileiro: ética e estética, Jaime Ginzburg (FFLCH-USP)


jaime ginzburg 1 - jaime ginzburg 1

Foto fonte: www.spanport.umn.edu/news/images/JGinzburg.jpg , www.spanport.umn.edu/news/events.php
Apresentação realizada no colóquio Escritas da Violência “Representações da violência na história e na cultura contemporâneas da América Latina”, no dia 9 de setembro de 2009.


Nesse colóquio, o professor Jaime Ginzburg (FFLCH-USP) presenteou a plateia com uma provocação: a aproximação da ética e da estética à literatura. A partir dessa palestra, resumimos alguns itens e pensamos em outros. Não culpem o professor por esse post, ok? É uma releitura livre e limitada de uma palestra brilhante.

A Ética pode ser considerada por dois fatores: as convicções pessoais (crenças e valores), que compõem o campo privado, e as leis formais do Estado, que compõem o campo público. O campo de estudo da ética seria o do conflito entre o público e o privado, naquilo que fica como indefinido entre os dois. Daí podemos supor que o problema da ética é o do critério de escolha.

Na estética, o ângulo do qual se fala da obra de arte é também uma questão de escolha. A escolha do foco narrativo estabelece o que é e o que não é relevante para se contar a história.

A indeterminação ética em se definir o que é certo e o que é errado pode ser associada à indeterminação em relação ao foco narrativo. Vale pensar isso para uma teoria do narrador, da narrativa (baseado em Adorno, em A posição do narrador no romance contemporâneo).

Extrapolando a palestra, pensamos os mecanismos da narrativa, no que possibilita que a obra, em sua história e forma, seja definida pelo escritor. Ambas estão relacionadas às técnicas narrativas: ética e estética como decorrentes da história que é narrada, no conflito apresentado, no que as personagens decidem ou não contar. Na literatura, a qualidade de uma obra define-se não somente pelo conteúdo, pela história narrada, mas pela forma, as técnicas usadas na narrativa. Aos dois podem-se agregar valores como enriquecedores, como, por exemplo, o uso da metalinguagem (para expor a incerteza, como Clarice Lispector); a exploração da tragédia, no sentido de que a atribuição maior de sentido à vida é conquistada quando a vida se perde (exemplo, A hora da estrela).

Algumas tendências do romance brasileiro foram elencadas e nos permitimos acrescentar outras:
  • Voltar ao mesmo tema: como que se houvesse, no cânone literário brasileiro, um “inconsciente historiográfico”:
  • Memória da dor: a memória da perda, o narrador melancólico, que tem a memória da perda e não consegue superá-la (a base teórica para o estudo da melancolia: Walter Benjamin). A melancolia é o elemento para a revelação da finitude humana; é a motivação criativa de uma forma de produção de conhecimento, na narrativa é a investigação sobre o passado de um personagem, é o personagem tentando encontrar a solução para uma memória do passado, procurando sua remissão aos olhos do leitor);
  • Imagem da mulher: o personagem principal se constrói sob efeito da ação ou memória de uma personagem feminina. A mulher aparece como não compreendida pelo protagonista, normalmente à mulher é associado o sacrifício. A sua morte sempre é carregada de significado (cada tipo de morte, carrega um significado: acidental, assassinato, suicídio);
  • Escolha do foco narrativo: o narrador comenta sua narração (metalinguagem);
  • Não há segurança na narração. Os narradores não sabem como contar a história e não distinguem com propriedade o certo do errado. Sua fala se contradiz à sua ação, a dúvida é crucial, o conflito não pode ser previsto ou diminuído etc.;
  • Não há equilíbrio entre dano e reparo: a memória do passado se revela como forma de procurar a justiça, o que era correto, mas isso não se concretiza no presente da narrativa;
  • Conexão entre forma e tema: a forma de constituir a narrativa é tão importante quanto o tema a ser tratado. Por exemplo, em uma história em que o tema é a dor, a forma pode ser a da fragmentação;
  • A narrativa não pode menosprezar a dúvida, o conflito e a morte.


A realidade no romance é a que o escritor cria. Ela há de ser verossímil para o leitor. Se os escritores, na corrente literária francesa Oulipo, são vistos como ratos que constroem seus próprios labirintos e depois se propõem a sair, a literatura poderia ser o labirinto, e, talvez, seja mais rica à medida que põe o leitor em seu centro, acompanha-o em algumas curvas, mas depois o deixa só, e o convida a encontrar seu próprio caminho até a saída.


A democratização do homem de letras: a questão das oficinas

narciso - narciso
    “Não escrevemos por acaso. Temos necessidade de nos deixar ao outro e essa é uma atividade eminentemente humana” (Luiz Hermenegildo Fabiano).

Fazer um curso de pintura não faz obrigatoriamente de ninguém um artista. Saber alguns acordes no violão também não garante que alguém seja músico. Mas isso não nos impede de apreciar a arte e até nos permitir apreendê-la e exercê-la para nossa ludicidade e humanização.
Não que literatura seja somente talento, como também não o é a música ou a pintura. A técnica é importante, sim, para desenvolver a arte de escrever, como já nos disse Raimundo Carrero. No século XVI, a literatura latina era descrita como “ingenium et ars”, ou seja, a perfeita junção entre talento e técnica. Em latim, Ars, a Arte, não é sinônimo de talento, mas sim de técnica. Arte, portanto, não tem relação com inspiração, inclinação ou talento, mas, propriamente, com a habilidade advinda do domínio de técnicas. A literatura, como uma Arte, é também fruto da habilidade do escritor no manejo das palavras. Como em qualquer Arte, o diferencial do artista será sua sensibilidade, sua criatividade e sua habilidade. Como nos diz Clarice Lispector, viver só se aprende vivendo; assim podemos afirmar que muitas das facetas de um artista são fruto de sua vivência. Mas a técnica pode, sim, ser ensinada e aprendida. A artista plástica aprende sua técnica nos ateliês; o músico, nos conservatórios; e o escritor, na oficina literária.
O que quero tratar aqui é a questão da proliferação das oficinas literárias ou dos cursos de formação de escritores. De modo algum postulo contra eles, pelo contrário, acredito que, em virtude do fácil acesso dos escritores amadores ao mercado editorial – graças às edições do autor e das editoras sob demanda –, o grande número de obras no mercado prejudica a qualidade, já que grande parte das publicações muitas vezes é de obras que nem sequer passaram por um crivo crítico. Assim, as oficinas, trabalhando na formação dos escritores amadores, podem contribuir com a qualidade das obras que alcançam a publicação. Mais um ponto positivo das oficinas é que o escritor passa a conhecer outros escritores, criando assim uma rede de afinidade que possibilitaria a ajuda mútua, por exemplo, pela leitura e crítica dos escritos uns dos outros.
Ao terminar a oficina, o aluno seria então um escritor? É importante então refletir que não é porque se faz uma oficina de escrita (ou curso de formação de escritores) que alguém se torna escritor no sentido pleno da palavra.
Primeiro ponto a ser considerado: o escritor é um profissional da literatura. Isso quer dizer que, muito mais que escrever, ele tem uma prática de leitura tanto de textos de ficção, quanto de textos teóricos. O que se vê atualmente é que grande parte dos candidatos a escritor não têm uma prática de leitura, ou seja, não estudam os principais textos da literatura mundial. O escritor tem de ter uma reflexão acerca do fazer literário, da importância da arte literária, da contraposição da literatura como produto de consumo e como arte. Obrigatoriamente, tem de conhecer a fundo o gênero a que se dedica a escrever e conhecer seus contemporâneos. Não estou desejando afirmar que é preciso cursar a faculdade de letras para ser escritor. Mas é preciso ir além de gravar no papel reflexões que dizem respeito somente a si mesmo e depois querer transportá-las para o grande público. Para isso existe o diário.
Segunda questão: quem pode ministrar um curso de formação de escritores? Isso é um grande problema. Muitos dos professores dessas oficinas são desconhecidos do mundo literário. A questão não está somente no fato de ser reconhecido, mas na sua formação e se ele realmente tem experiência para transmitir aos alunos. Assim, é preciso antes de ingressar em alguma oficina procurar saber quem são os professores, sua experiência no mercado editorial, sua didática, a organização do curso. Conheça o curso e estude se a proposta realmente será eficaz com você. Mario Bellatin, escritor mexicano, dirige a Escuela Dinámica de Escritores , uma escola de formação de escritores em que se é proibido escrever como exercício da escola. O grupo francês Oulipo propõe exercícios de restrição (como, por exemplo, não usar o artigo “a”, não usar adjetivo algum) como superação e aperfeiçoamento da técnica. Propostas de didática existem na maior variedade possível.

Como diz Raimundo Carrero , “O trabalho literário exige disciplina e método”. Assim, se você deseja ser escritor, invista em sua carreira. Escreva muito, sim. Mas leia muito mais. Busque os clássicos, busque os escritores contemporâneos, busque os críticos. A literatura é uma profissão, então precisa de empenho e dedicação.
Gostaria de convidar as pessoas que fizeram alguma oficina literária ou curso de formação de escritores a relatarem a sua experiência aqui, no intuito de enriquecer a reflexão.
Saudações literárias,



O que nos diz a crítica literária?




critica - critica
No artigo, José Castello discorre sobre a crítica de um texto de um autor novo, primeiro livro. Aí, a nosso ver, está a tarefa da crítica, tão bem feita por Manoel Bandeira, ler os escritores estreiantes e apresentá-los ao mundo literário. A tarefa é difícil, sabemos. Mas qual a razão de uma crítica cujo objeto são somente escritores consagrados?


Selecionamos excertos:
“…diante de um primeiro livro, o crítico se vê obrigado a exercitar, mais que nunca, o fundamento de qualquer leitura: a capacidade de se assombrar.”

“Também escrever um primeiro livro é desconstruir-se, into é, livrar-se do que ‘naturalmente somos’. Nada há de natural na literatura. Não se escreve sem, antes disso, destruir um mundo.”

“ Mais que o corpo, é a linguagem que, despida de sua ilusória bondade, passa a nos falhar. Só quando revira e torce a linguagem, um escritor começa a escrever.”

“A literatura não se interessa pela civilização e pelo progresso. Ela não é a montagem de ideais, mas, ao contrário, sua desmontagem. Nada assegura que um romance escrito no século XX seja superior (um ‘avanço’) a um romance do século XIX. A literatura é indiferente à lógica dos relógios. É extemporânea.”

“A cada palavra que escreve (que lhe sai), o escritor desmente a palavra planejada. Nos livros de estreia, ainda temerosos de se arriscar, os escritores em geral se agarram aos ideais antigos de boa educação, desenvolvimento e progresso. Ocorre que as torrentes da escrita são mais fortes. Se o autor escreve para valer, elas logo o arrastarão para fora de seu caminho. A isso se pode chamar de destino.”


José Castello | “a literatura se torna ameaçadora”


jose castello jun - jose castello jun

“Em nosso tolo mundo do Eu, os escritores se transformam em celebridades. Escritores deveriam repetir, hoje, a frase de Manuel, o protagonista de Gustavo Bernardo: ‘Eu não sou nenhum tipo de deus. Eu não sou sequer nenhum tipo de eu’. É por isso que a literatura se torna ameaçadora: porque não exclui nada, nem ninguém. Porque encara, sem medo, a precariedade do homem.” (José Castello, “A bofetada metafísica”, em O Globo, 13 jun. 2009. Prosa e Verso)



Rodrigo Lacerda e leitura crítica


montagem foto - montagem foto

Outra vida é o título do novo romance de Rodrigo Lacerda. Para aprimorar a obra, o autor contou com o apoio da leitura crítica de Ronaldo Correia de Brito. “Sou de família de editores [é filho de Sebastião Lacerda, da Nova Aguilar, e neto do político Carlos Lacerda, fundador da Nova Fronteira]. Acredito muito no papel do editor. Também conversei muito com o editor da Alfaguara, Marcelo Ferroni”.
Nós, da Ofício Editorial, aconselhamos que, antes de enviar a obra para avaliação para publicação ou para publicação on demand, o escritor a envie para um leitor crítico. Pode começar enviando a obra para um amigo, é bom escutar o que seu público terá a dizer, a opinião dele. Mas nada substitui a leitura crítica, pois ela não é somente opinião sobre sua obra. Ela é baseada em crítica e interpretação, e nela são apontados os pontos em que o escritor deve trabalhar mais em sua obra, ou seja, é dada a oportunidade ao escritor para que ele melhore sua obra.

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